segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Respeito também se aprende na escola

No Governo do Paraná existe um setor específico para se trabalhar o combate ao preconceito e a homofobia nas escolas. O Departamento da Diversidade, da Secretaria de Estado da Educação, está presente em todos os Núcleos Regionais de Educação do Estado (NRE). Em Umuarama, o Departamento é coordenado pela professora Edina Terezinha Monteiro.

Entre os objetivos do seu trabalho está o desafio de possibilitar a visibilidade cultural, política e pedagógica aosdiferentes sujeitos educandos e educadores presentes nas escolas paranaenses. Outro objetivo é instituir políticas públicas de educação que possam contribuir no aperfeiçoamento das práticas educativas. O respeito às diferenças é o tema central do trabalho desenvolvido pelo departamento.

De acordo com a coordenadora, há vários anos a escola vivencia situações que provocaram a necessidade da criação desse segmento específicodentro da Secretaria para tratar o tema Diversidade. “Contudo, ainda não há uma disciplina ou nenhum material didático próprio para se trabalhar nas escolas”, comenta.

O kit de materiais didáticos anunciado pelo Ministério da Educação para ajudar a combater a homofobia foi suspenso pela Presidente Dilma e até agora não foram dadas novas orientações. Em Brasília, há muita polêmica em torno do assunto.

Deputados ligados a segmentos religiosos dizem que o material estimularia a homossexualidade nos jovens.  Já Conselho Federal de Psicologia (CFP), que foi convocado pelo Governo para analisar o material, nega e até combate esse argumento. Para os psicólogos, o parecer dos deputados esconde um princípio de que essa sexualidade é ruim e tem que ser combatida, evitada – uma das bases do pensamento homofóbico. 

Enquanto em Brasília deputados e Ministério da Educação não entram em um consenso, no dia a dia das escolasumuaramenses, professores e alunos aprendem com suas vivências. 


“Somos acionados especialmente quando há casos de bulling, ou seja, violência ou preconceito contra algum aluno por causa da sua orientação sexual. Nesses casos, o assunto é tratado individualmente, sempre buscando combater a discriminação e promover a boa convivência na escola”, disse Monteiro.




Dentro das atividades de formação, promovidas pelo Governo do Estado do Paraná através da Secretaria de Educação e dos Núcleos Regionais de Educação, estão incluídas orientações de como o educador deve abordar o tema. Os professores participam de cursos, seminários e palestras. As escolas também podem contar com um portal na internet com documentos de referência, notícias, legislação e contato direto com orientadores (http://www.diaadia.pr.gov.br/dedi).

Para o professor Angelo Barreiro Gonçalves, diretor do Colégio Estadual Tiradentes de Umuarama, os jovens e os adolescentes estão mais preparados que os adultos para lidar com as diferenças. “Nos adolescentes os aspectos religiosos não estão tão arraigados como em nós”, disse. Para ele, muito do preconceito que acaba se transformando em violência nas ruas e até dentro da escola é fruto de uma educação familiar baseada em preceitos religiosos inflexíveis.  

Os educadores entrevistados afirmam que já aconteceram mudanças consideráveis no ambiente escolar e que a homofobia vem diminuindo, enquanto a tolerância tem aumentado. Para o professor Renato Antônio de Oliveira, o maior acesso à informação e a cultura também estão colaborando nesse processo de mudança.

“O jovem hoje está muito bem informado. Tem as mídias como internet, celular, filmes... O que antes era praticamente inacessível para nós, esta a click deles. Nas gerações anteriores a nossa, os pais também não falavam abertamente sobre sexo. Hoje isto já é bem diferente. Acredito que a próxima geração, ou seja, os filhos dos nossos filhos estarão ainda mais preparados do que nós. À nossa geração, cabe ensinar o respeito”, disse o jovem professor de 38 anos.


O aluno Luiz Rafael Maia da 6ª série do Colégio Estadual Monteiro Lobato, disse que professores de várias disciplinas já falaram sobre o assunto. “Tem muita brincadeira de ‘zoar’ com os gays. Mas, os professores sempre explicam que temos que respeitar as pessoas como elas são, que ser homossexual é uma opção de cada um. Eu respeito”.

A aluna Elaine, do 2º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Pedro Segundo diz que tem vários amigos homossexuais na escola e que o convívio é normal.  “Antes até tinha alguma discriminação, mas, acho que isto está acabando”.

 COORDENADORA - A coordenadora de Diversidade do NRE-Umuarama Edina Terezinha Monteiro afirma que no Paraná já houve avanços importantes no combate a homofobia




 PROFESSOR – O diretor do Colégio Tiradentes, Angelo Barreiro acredita que os jovens tem mais facilidade que os adultos para lidar com a questão porque são menos preconceituosos



 PROFESSOR – O professor Renato Antonio de Oliveira acredita que a escola, assim como a família, deve ensinar as crianças e jovens a respeitarem as diferenças



Entre a teoria e a realidade

Longe dos projetos que tramitam nas casas de Leis, a realidade demonstra que ainda há um longo caminho entre a conquista e o exercício do direito de igualdade para os homossexuais – que é a principal bandeira de movimentos como o da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLBT) em todo o país e do Grupo União Pela Vida de Umuarama.

Casos graves de violência contra homossexuais são frequentes, inclusive em Umuarama e cidades da região. Entre os homossexuais, ainda há muito medo. Nenhum dos entrevistados pela nossa reportagem se deixou fotografar. Eles temem o preconceito na escola, no trabalho e na família e os grupos que lutam pelo retrocesso dos direitos já conquistados.

O primeiro casamento gay do Brasil, realizado em 5 de julho de 2011 no Cartório de Registro Civil em Jacareí (SP), pode ser questionado na Justiça e acabar sendo considerado nulo. Alguns juristas acreditam que o casamento homossexual, nos termos atuais, fere o parágrafo 3º do artigo 226 da Constituição Federal, que prevê que apenas casais heterossexuais podem se casar.

Por outro lado, a Constituição, embora se refira a gênero no que diz respeito ao casamento, também defende o princípio de isonomia, que garante que todos são iguais perante a lei.

Ou seja, entre a teoria e a realidade há uma lacuna reservada ao entendimento e que só será superada através de um processo histórico e cultural amplo. É isso que pensa o vendedor Antonio Carlos Fonseca, de 23 anos. O jovem que é homossexual assumido, diz que há um longo caminho entre a teoria e a prática.

“Vai ser um processo cultural muito amplo. Você selembra quando havia um enorme preconceito contra os negros ou contra a mulher trabalhar fora de casa? Faziam piadinhas machistas, conotando que lugar de mulher é na cozinha e as comparações terríveis com a cor da pele da pessoa, sugestionando que negro era sujo, porco... Daí vieram os movimentos em defesa da mulher, leis contra a discriminação dos negros e esses assuntos até viraram tema de novela.Hoje as mulheres estão no poder e feio e sujo é quem discrimina alguém por causa da sua cor. Então, agora estamos vivendo uma situação muito parecida quanto a orientação sexual das pessoas. É um momento histórico de luta contra um preconceito”, resumiu o jovem.

Para ele, o preconceito não vai acabar com a união homoafetiva, com o casamento gay ou mesmo com a aprovação da lei contra a homofobia. “Se não for contra os negros, as mulheres ou os gays, pode ter certeza que os preconceituosos encontrarão outra característica para discriminar”, ressaltou Fonseca.

A estudante de iniciais AJV assume que é homossexual, mas diz que não tem coragem de contar para a família. “Nem minha mãe, muito menos o meu pai. Acho que jamais entenderiam. Moro fora de casa desde os 18 anos e entre os amigos é diferente: todos me aceitam. Há dois anos estou com a minha companheira, moramos juntas, mas, para as nossas famílias, somos apenas amigas”, disse a jovem de 22 anos.

Já o publicitário Lucas Silva de 23 anos vive sua orientação sexual com bastante liberdade e responsabilidade. Ele disse que já até sofreu preconceito, mas que foram fatos isolados que não o afetaram. “Eu nem me importei. Acho que até por isso, nunca sofri muita discriminação. Sempre fui respeitado. Desde que me entendo como pessoa, sei o que sou e o que quero. Não sou um homem que quer ser mulher. Sou um homem que gosta do mesmo sexo. Sinto-me homem e sou feliz assim”.

Segundo ele, a maioria das pessoas da sua família, os amigos e os colegas de trabalho sabem da sua orientação sexual e há um convívio bastante saudável entre eles.“Tenho meu namorado, que frequenta minha casa.Minha mãe sabe e meus amigos mais íntimos sabem. Somente com o meu pai é que não falo abertamente sobre o assunto. Não é por achar que estou fazendo algo errado, mas é por respeitar a opinião dele”, destacou.

Silva também revelou o desejo de casar-se. “Claro que quero me casar. Espero que não demore muito para que realmente possamos nos casar de fato, no cartório. Estou apaixonado e, creio que o sonho de todos os apaixonados seja o matrimônio”.



 BANDEIRA GAY – O casamento oficial, em cartório, com todos os direitos inerentes ao matrimônio é a nova bandeira do movimento LGBT



União Pela Vida em defesa do público LGBT



Em Umuarama e região os direitos das Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais é defendido pela Ong União Pela Vida. A entidade, que tem como foco principal a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, mas também promove cursos, palestras, seminários e eventos para tratar o tema homofobia.

De acordo com o professor Cristiano Henrique Ramos – que coordena a pasta LGBT da Ong, combater a discriminação e a violência e levar o conhecimento dos seus direitos aos jovens estão entre os objetivos da organização.

Para ele, somente a ampliação da representatividade nos poderes executivo e legislativo pode promover de fato os direitos dos homossexuais. Há também que se separar religião do Estado de Direito. “O que vivemos no Brasil está mais perto de uma teocracia do que de uma democracia”, disse Ramos referindo-se a interferência dos deputados ligados a movimentos religiosos que provocaram a suspensão da distribuição do kit contra a homofobia pelo MEC.



CONVITE – DOMINGO COM PIPOCA



O Grupo União Pela Vida está iniciando mais um projeto que tem como objetivo principal o empoderamento do jovem LGBT, através do conhecimento dos seus direitos e deveres. No dia 24 de julho, a partir das 15 horas, terá inicio o “Domingo com Pipoca”. Serão sessões de cinema, com filmes temáticos. “Também faremos círculos informais de conversas, tirando duvidas e promovendo um momento diferente de interação”,disse o professor Ramos.

As sessões de cinema irão acontecer todo mês, sempre com um filme e um tema diferente. A entrada é gratuita. Para participar, basta se dirigir a Casa de Apoio Nosso Lar, que fica na Avenida Rondonia, 3645. Mais informações no telefone 3622-7178.

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